Eleições 2010 – considerações

Considero a situação das eleições presidenciais algo inacreditável, seja pela conduta do candidato do partido de oposição (José Serra, do PSDB), seja pela posição da candidata governista (Dilma Rousseff, do PT).

Primeiramente, o candidato oposicionista. Tenho dito reiteradamente a amigos que José Serra está pedindo encarecidamente para perder a eleição desde o final do ano passado, quando inexplicavelmente hesitou até o último momento em assumir o que todos já sabiam, que ele era o candidato da oposição (criando inclusive um desnecessário desgaste interno dentro do PSDB, com o então Governador de Minas Gerais, Aécio Neves) e, no início de 2010, hesitou até o último momento para definir quem seria seu vice-presidente – para, quando finalmente tomou uma decisão, mudar de idéia no mesmo dia pelo protesto geral criado por sua escolha (para quem não lembra, primeiramente optou-se por Aldo Rebelo para, somente depois do protesto geral, optar por Índio da Costa). Para piorar, José Serra iniciou sua campanha presidencial com um medo quase-patológico, uma semi-fobia, de criticar o atual Governo pelo fato do Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, ter uma aprovação de mais de 80%… Esta covardia oposicionista tem gerado o que certa vez ouvi de um especialista, em reportagem na TV, de que a oposição diz que quer continuar o trabalho do Governo atual, donde entre o “genérico” José Serra e a “original” Dilma Rousseff, o povo brasileiro estaria escolhendo esta última… o que é conseqüência direta desta postura neutra do candidato que deveria fazer oposição…

Aliás, a incapacidade do PSDB de criticar o Governo Lula é algo que considero absolutamente inacreditável… Primeiramente, analisemos essa questão dos especialistas dizerem que José Serra iria “continuar o trabalho de Lula”… Ora, se alguém está continuando o trabalho de alguém, este “continuador” é LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA, visto que Lula continuou com a política econômica neoliberal de FHC, como deixou claro que faria na campanha presidencial de 2002 – quando se personificou a noção do “Lulinha paz e amor” e do “PT cor-de-rosa”, expressão esta (a segunda) criada por conta da campanha e vitória de Marta Suplicy na eleição municipal de São Paulo, no ano 2000. Claro, Lula aumentou o salário-mínimo e as bolsas (família, escola etc) mais do que José Serra e/ou Geraldo Alckmin teriam aumentado, mas fato é que esta ideologia governamental das bolsas foi criada no Governo FHC! Foi FHC quem iniciou o pagamento da bolsa-escola, e vale lembrar que o tal “Fome Zero”, slogan principal da campanha presidencial lulista de 2002, nunca saiu do papel – Lula se limitou a ampliar as “bolsas” já existentes e mesmo reestruturá-las, criando outras etc, mas a política de bolsas iniciou-se com FHC, donde se alguém está dando continuidade a algo, este alguém é Lula relativamente à política econômica de FHC, mas é INACREDITÁVEL a incapacidade do PSDB de destacar tais fatos que poderiam eventualmente influenciar no resultado das eleições, por desmistificarem o discurso segundo o qual o PSDB estaria pregando a continuidade do Governo Lula, visto que é Lula quem está continuando a política econômica e social de FHC…

Claro, como eu mesmo disse acima, Lula aumentou mais o salário-mínimo e o valor e a abrangência das “bolsas” do que Serra e/ou Alckmin teria(m) aumentado (presumo), contudo, isso não apaga a correção do que acabei de expor: que a política de “bolsas” foi iniciada pelo Governo FHC, que já promovia aumentos anuais do salário-mínimo, donde Lula deu continuidade à política econômico-social de FHC e, assim, é descabido dizer que seria o PSDB que estaria pretendendo dar continuidade a alguma política governamental… Mas é inacreditável a incapacidade dos marketeiros e políticos do PSDB constatarem esta flagrante obviedade…

Ainda sobre as deficiências de propaganda eleitoral do PSDB, lembremos do debate dos candidatos Lula e Alckmin, no segundo turno de 2006, por ser paradigmático do que pretendo dizer. Naquele debate, de forma profundamente demagoga e omitindo questão essencial (que destacarei em seguida), Lula ficou com uma argumentação ad terrorem (terrorismo argumentativo) de que o PSDB iria privatizar todas as estatais, mesmo o Banco do Brasil e a Petrobrás, mesmo com o PSDB negando isto a todo momento… Ao mesmo tempo, Lula ficava condenando a todo momento as privatizações do Governo FHC, sendo que Geraldo Alckmin não defendeu as privatizações de seu partido na Era FHC… Ora, era muito simples desacreditar a argumentação falaciosa de Lula: bastava Alckmin ter dito “pergunte-se ao candidato Lula se ele se lembra como era a telefonia no Brasil antes das privatizações… Um telefone custava mais de CINCO MIL REAIS, era um bem penhorável na Justiça, o Governo não tinha capacidade econômica nem tecnológica para universalizar a telefonia a todos os brasileiros, o que foi possível com a privatização, que tornou o telefone fixo um aparelho de custo irrisório passível de ser obtido por qualquer brasileiro em qualquer local do país… Claro que as empresas que compraram a distribuição telefônica no Brasil têm falhas, recebem inúmeras reclamações e devem ser fiscalizadas e punidas nestes casos, mas fato é que foi a privatização da telefonia que permitiu o acesso universal do povo brasileiro à telefonia, o que o candidato/Presidente Lula convenientemente ignora em seu demagógico discurso populista….

Mas Geraldo Alckmin fez isso??? Não, pois claramente ficou com medo de defender as privatizações, por ser um tema delicado na opinião pública, donde conseguiu a façanha, por sua incapacidade de rebater as argumentações de Lula, de ter no segundo turno menos votos do que teve no primeiro turno…

Outro grande problema das eleições no Brasil é a postura flagrantemente amoral do povo brasileiro em termos de moralidade administrativa – este não pega a imoralidade administrativa, mas não está minimamente preocupado com a moralidade administrativa… O fato de Lula não ter perdido popularidade por conta do escândalo do Mensalão, em 2004, na eleição presidencial de 2006 prova isto cabalmente… e, para piorar, o PT ingressou na Presidência da República, em 2002, com a promessa de que, ao menos, lutaria pela “ética na política”, mas, com o Mensalão, mudou o discurso, para defender que a corrupção existe desde sempre no Brasil… De qualquer forma, é inegável que PTistas serem corruptos é algo mais grave do que os demais o serem, tendo em vista que o PT sempre teve o “discurso ético” como um discurso importante em suas campanhas até a vitória em 2002, para depois adotar o discurso filosófico de que “a ética é relativa” no momento em que lhe era conveniente, ou seja, no momento em que seu partido foi flagrado em um ambiente de corrupção generalizada…

Mas a verdade é que a maioria do povo brasileiro demonstra completo desprezo por questões de moralidade administrativa… não se importa se existe ou não corrupção, desde que se adote a postura do “rouba, mas faz”, o que é profundamente lamentável… O discurso do candidato e cantor Tiririca, que fica a todo momento zombando da seriedade eleitoral dizendo que “pior do que está não fica… vote em mim” (sic), sem falar no inacreditável “você sabe o que um deputado faz? Nem eu, então vote em mim para descobrirmos” (sic), demonstra cabalmente o que acabei de dizer…

Sobre Dilma Rousseff, creio que caiba destacar que é justa a crítica de Serra de que a mesma “terceiriza no Presidente Lula” a condução de sua campanha, ao menos em temas polêmicos… Serra está debatendo com Lula, não com Dilma… Isso é inacreditável… o povo brasileiro parece estar achando que está votando em Lula e que é Lula quem estará na Presidência da República a partir de 2011 será Lula… O discurso de Dilma é vazio em termos de idéias próprias, apenas diz que continuará o legado de Lula… A falta de uma identidade própria é simplesmente inacreditável e deveria ser imperdoável em eleições, mas não será – e isto independentemente de se considerar o Governo Lula como ótimo ou péssimo…

Vou finalizar aqui. Alguém poderia perguntar qual é a conclusão destas considerações. Sobre o tema, cabe dizer que não pretendo influenciar o voto de ninguém, apenas provocar a reflexão sobre estes temas que o PSDB e a mídia especializada parecem incapazes de destacar, assim como destacar que uma eventual (mas provável) derrota de José Serra nas eleições decorrerá principalmente de infantis erros estratégicos dele próprio na condução de sua campanha eleitoral, assim como da sua incapacidade (e do PSDB como um todo) de demonstrar que Lula deu mera continuidade à política econômico-social do Governo FHC e, portanto, que é totalmente improcedente a acusação de que Serra estaria pretendendo dar continuidade ao Governo Lula – pois, se Serra pretende dar continuidade a algo, é ao Governo FHC.

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