Trago, aqui, primeiro minha manifestação e, depois, de outras entidades, disponibilizadas em suas redes sociais e/ou websites – e, ao final das manifestações, transcrevo a carta do Deputado Jean Wyllys, à Executiva Nacional do PSOL, informando as razões de sua duríssima decisão de se exilar do país, para garantir sua sobrevivência:
“Sobre a decisão do Deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ) de desistir do mandato e se exilar do país, no primeiro caso de exílio do governo bolsonárico (cf. Justificando e André Zanardo, seu editor*). Estou em profundo choque e muito triste com isso… evidentemente, gostaria que Jean ficasse, mas acho absolutamente compreensível sua decisão. Como a entrevista dele à Folha explica, ele sofre constantes ameaças de morte (a si e sua família) e difamações diversas há muitos anos, algo que se agravou após o assassinato de Marielle e a deplorável ascensão bolsonária à presidência da república. Ele sofre isso praticamente desde que se elegeu pela primeira vez, em 2010, tantas são as difamações e fake News que sofre que se viu obrigado a criar um site para desmistifica-las, não que a verdade importe nesses deploráveis tempos de ignorância e simplismo acrítico orgulhosos de si. Mostra muita falta de empatia criticar sua decisão, pois cada um(a) sabe seu limite e, infelizmente, chegamos ao limite de Jean. Deplorável país que naturaliza esse tipo de situação… Não acho que minorias, grupos vulneráveis e oprimidos(as) em geral devem necessariamente fugir do país, acho que temos que ficar e lutar, MAS é preciso ter um mínimo de empatia e não exigir perfeccionismo ninguém, entendendo que Jean chegou ao seu limite. Até porque ele, mesmo pensando em desistir da campanha, a levou até o fim e se reelegeu, o que faz o mandato continuar com o PSOL, destinando-o a seu primeiro suplente, David Miranda, também gay assumido e orgulhoso de si, com experiência de ter sido vereador no Rio de Janeiro. Então, Jean nos ajudou, reelegendo-se, pois o mandato ficará com o PSOL, logo, continuará com uma esquerda aguerrida na luta contra deformas econômicas, previdenciárias etc, bem como na defesa de minorias e grupos vulneráveis.
Em tempo. Deplorável é a postura de pessoas que estão “comemorando” a saída de Jean. Algo que mostra que, definitivamente, falhamos enquanto sociedade política pluralista… Qualquer insinuação nesse sentido nesta página gerará exclusão sumária e bloqueio da criatura em questão. Minha página, minhas regras, muito prazer. Aliás, quem “comemora” a saída de Jean do país pode fazer o enorme favor de me excluir, porque você que assim age tem o meu mais profundo e genuíno DESPREZO.
#NaLutaSempre
#NinguémSoltaMãoDeNinguém
#NaveMãeSOCORRO… (mande reforços!)
#RespiraçõesProfundas…
*Exílios podem ser voluntários ou forçados, os voluntários servindo para garantir a sobrevivência e realizar protestos políticos. É o caso de Jean, que faz um exílio por sua sobrevivência, já que sofre ameaças pesadas há muitos anos, que se agravaram após o assassinato de Marielle e a deplorável ascensão política de Bolsonaro. Triste e deplorável país que naturaliza isso, deplorável a postura de pessoas que “comemoram” isso apenas por não gostarem de Jean. São mais sinais dos tempos nefastos que se avizinham em nosso país, desde a eleição bolsonárica e tudo que representou – em síntese, o desprezo aos direitos humanos, por discursos absolutamente preconceituosos desse cidadão, absurdamente eleito presidente da república – com letras minúsculas mesmo, nesse contexto…”
(Paulo iotti – fonte: <https://www.facebook.com/thalia.brasileira/posts/1985864081509317>)
“O GADvS – Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero, pessoa jurídica de Direito Privado, inscrita no CNPJ n.º 17.309.463/0001-32, a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, inscrita no CNPJ sob o n.º 00.442.235/0001-33, e Semear Diversidade (<https://www.atados.com.br/ong/instituto-semear-diversidade>😉, entidades de promoção dos direitos da população LGBTI+ e de enfrentamento a todas as formas de opressão motivadas na orientação sexual ou identidade de gênero, real ou atribuída, da vítima, vêm expressar sua irrestrita SOLIDARIEDADE ao Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ).
É com muito pesar que recebemos a notícia da decisão de Jean Wyllys de se afastar de seu mandato como Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro, motivada pelas constantes ameaças de morte e difamações recebidas, que se intensificaram nos últimos tempos. Jean, desde sua primeira eleição – o primeiro parlamentar brasileiro abertamente gay e orgulhoso de si – mostrou-se um incansável guerreiro, sendo responsável pela apresentação de diversos projetos de lei e pela constante defesa dos direitos da população LGBTI+ e outros grupos vulneráveis, incessantemente atacados por aqueles que não comungam dos valores da democracia e da pluralidade.
Em razão de sua coragem e visibilidade, Jean se tornou alvo de uma cruel e extremamente organizada campanha de difamação, cujos ataques e agressões se acirraram no último ano, especialmente no período das eleições. Vítima de diversos crimes contra a honra – e assim reconhecido pela Justiça brasileira, que, em ao menos cinco ocasiões, determinou a condenação de seus agressores – e constantes ameaças de morte, Jean não esmoreceu e preparava-se para enfrentar o terceiro mandato consecutivo.
Jean é alguém sempre teve a defesa intransigente dos direitos humanos como seu norte. Mesmo quem eventualmente dele diverge, disso não pode discordar. Fez história como parlamentar, recebendo diversos prêmios por sua atuação sempre combativa na defesa dos mais vulneráveis. Sua atuação foi marcante em diversas CPIs, destacando-se especialmente pelo combate à pedofilia, dentre diversas outras batalhas parlamentares travadas na luta pelo bem comum.
No entanto, a consolidação política de forças retrógradas – que fazem de Jean seu alvo preferencial e tentam, por ele, atacar toda a comunidade LGBTI+ – fazem com que, neste momento, a sua própria casa não lhe pareça segura e que seu próprio país lhe seja hostil. Neste contexto, compreendemos sua decisão de afastamento, compartilhando a ideia de que “mártires não são heróis”. Fora do país e longe dos que o desejam frio e calado, Jean certamente fará sua voz ecoar, vibrante e, sobretudo, quente e viva. Assim desejamos e esperamos.
A nossa luta prossegue, dentro e fora do país. A nossa solidariedade está com o deputado Jean Wyllys e a sua força nos serve de inspiração. Seu legado será perpetuado – não só na Câmara dos Deputados, com a presença de David Miranda, seu sucessor, mas também nas universidades, nas praças, nos espaços públicos e privados. Sejam quais forem seus novos caminhos, lembre-se, Jean, que você não segue só – junto contigo, todo um movimento LGBT+, visível, colorido, que a cada dia cresce e em você se inspira e se espelha.
Não te calarão.
Não nos calarão.
Ninguém solta a mão de ninguém
Paulo iotti
Diretor-Presidente do GADvS – Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero, e Diretor-Jurídico do Semear Diversidade
Symmy Larrat
Presidenta da ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, e Representante da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais”
(Fonte: <http://www.gadvs.com.br/?p=2172>)
“QUEREMOS JEAN WYLLYS VIVO!
Recebemos, com muita tristeza, a decisão de Jean Wyllys de deixar o país e seu mandato como Deputado Federal. Diante da omissão do Estado brasileiro em garantir segurança e proteção a Jean, esta medida radical é consequência das inúmeras ameaças recebidas e de uma cultura violenta que despreza a vida de LGBTIs brasileiras.
O Brasil é o país em que mais morrem LGBTIs em crimes de ódio, que persegue negras e negros e onde o feminicídio de mulheres cis e trans bate recordes. Já nestes primeiros dias de 2019, choramos o assassinato de Quelly da Silva, travesti assassinada com requintes de crueldade. Outra adolescente, também travesti, foi apedrejada e perdeu 8 dentes. Um mulher lésbica foi assassinada e depois estuprada enquanto trabalhava. A situação é aterrorizante.
Nosso país é também um dos que mais perseguem defensoras e defensores de Direitos Humanos em todo o mundo. A decisão de Jean Wyllys, em defesa de sua vida, é compreensível e tem nossa ampla solidariedade. É sinal de que a democracia no Brasil está em risco e que a violência ganhou contornos absolutamente inadmissíveis.
Repudiamos a postura de representantes do Judiciário, Legislativo e do Executivo que minimizam a gravidade da situação em que se encontra Jean Wyllys e que, em tom jocoso, assinalam carta branca aos perpetradores destes crimes. Isto apenas amplia a perseguição a LGBTIs, mulheres, negras e negros e aos defensores e defensoras de Direitos Humanos.
Estamos ao lado de Jean Wyllys e o queremos vivo.
A democracia no Brasil está em risco. É fundamental ampla solidariedade a todos os que resistem e defendem os Direitos Humanos”.
Por PSOL, Aliança Nacional LGBTI, GADvS, MTST e Instituto LGBT
“A Aliança Nacional LGBTI+ vem por meio desta prestar solidariedade ao Deputado Federal Jean Wyllys diante de sua decisão pessoal do de deixar o país e o cargo reeleito, devido às constantes ameaças à sua vida.
Em entrevista para Folha de São Paulo, o Deputado disse que por diversas vezes recebeu ameaças de morte. Uma desembargadora do Rio de Janeiro chegou a sugerir sua execução e o método de realizá-la.
O ocorrido com o Deputado Jean faz parte da realidade brasileira atual, em que a violência LGBTIfóbica está sendo banalizada. Apenas um entre muitos exemplos ocorreu esta semana, quando mais uma mulher trans foi assassinada com requintes de crueldade, teve o coração arrancado e substituído por uma imagem de uma santa.
Diante da omissão do Congresso Nacional em não aprovar legislação que proporcione proteção à população LGBTI+ face à discriminação e violência que comprovadamente sofre, junto com o atual quadro de autoritarismo que assinala carta branca aos perpetradores destes crimes, a impunidade faz com que as figuras de referência LGBTI+ sejam alvos de perseguição. É o caso do Deputado Federal Jean Wyllys.
Nós da Aliança Nacional LGBTI+, continuamos nos fortalecendo por meio da sua tenacidade, sagacidade e perseverança, na certeza de que dias melhores virão. Jean Wyllys é um amigo, um pensador, e uma figura importante para a representatividade LGBTI+.
Nos colocamos à sua disposição, Deputado Jean. Estamos do seu lado e tem nosso apoio, carinho, afeto e admiração. Desejamos muita tranquilidade, êxito, realização, liberdade de ser o que é e falar o que pensa e, principalmente, segurança aonde quer que a vida lhe leve.
Toni Reis
Diretor Presidente
Aliança Nacional LGBTI+”
(Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2243713952583810&set=a.1376719609283253&type=3&theater>😉
“Primeiro exilado desde a ditadura, Jean Wyllys abre mão do mandato para não ter de voltar ao Brasil
Wyllys vivia sob escolta policial desde o assassinato de Marielle Franco. “Para o futuro dessa causa [LGBTI+], eu preciso estar vivo”.
Após sofrer graves ameaças de morte, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL) anunciou nesta quinta-feira (24/1) que abrirá mão do mandato e não voltará ao Brasil, situação que pode ser considerada o primeiro caso de exílio político voluntário após o fim da ditadura militar. O parlamentar vivia sob escolta policial desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março do ano passado.
Eleito pela terceira vez consecutiva deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, primeiro parlamentar assumidamente gay no Congresso Nacional, se tornou um dos principais defensores das pautas progressistas na política nacional e um dos principais alvos de grupos conservadores e fake news nas redes sociais.
Wyllys já venceu ao menos cinco processos por injúrias, calúnias e difamações divulgadas contra ele, mas com o aumento das ameaças de morte contra ele, decidiu deixar o país para se dedicar à carreira acadêmica. De férias no exterior, revelou que não pretende voltar.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Wyllys afirmou que além da execução por grupos de milícias passou a temer também a possibilidade de um atentado praticado por pessoas fanático religiosas.
“Estava me sentindo inseguro, mesmo com a escolta me acompanhando”, afirmou Wyllys à Folha. “Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sobre escolta?”, questiona. “Sou humano e cheguei no meu limite”.
Jean conta que a tomada desta decisão não foi fácil e “implicou em muita dor”, pois envolveu abrir mão da proximidade da família e amigos queridos, além da carreira política.
“O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou pra mim: ‘Rapaz, se cuide. Os martires não são heróis’. E é isso: não quero me sacrificar”, disse à Folha. “Para o futuro dessa causa [LGBTI+], eu preciso estar vivo”.
Wyllys afirma que seu partido, o PSOL, reconheceu os riscos que ele corria, por se tratar de um alvo preferencial dos grupos de oposição, e o apoiou em sua decisão de não voltar ao Brasil.
Com a decisão do deputado de não assumir o mandato, quem podem ocupar o lugar de Jean Wyllys na Câmara é o suplente David Miranda (PSOL-RJ), vereador carioca. Ativista LGBT, casado com o jornalista Glenn Greenwald, David é jornalista e vencedor do Prêmio Pullitzer em 2014 por sua reportagem sobre programas de vigilância secretos dos Estados Unidos.
Ameaças e violências
Jean Wyllys conta que já sofria ameaças antes, mas nunca achou que pudessem se concretizar. Entretanto, com a execução de Marielle Franco e a intensificação das ameaças contra ele, percebeu que o risco era real.
O deputado relata que a situação se agravou com as últimas eleições, em grande parte devido às fake news: no período eleitoral, Jean Wyllys foi alvo de diversas notícias falsas, como as relacionadas ao inexistente “kit gay”.
“A Comissão Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma medida cautelar logo depois da eleição. O documento é claríssimo: é baseado em todas as denúncias que nós fizemos à Polícia Federal, no fato de que a Polícia Federal não avançou nas investigações sobre as ameaças contra mim. No fato de que a proteção era pífia”, disse em entrevista à Folha, destacando que o Estado brasileiro não reconheceu que havia um quadro de violência motivado por homofóbia no Brasil.
Por fim, lembra o episódio envolvendo a desembargadora Marília Castro Neves:
“A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marília Castro Neves, Desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma ‘execução profilática’, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança. Na sequência, um dos magistrados falou que eu gostaria de ser executado de costas. E ela respondeu: ‘não, porque a bala é fina’”.
Mensagens de apoio
Após o anúncio de sua decisão, milhares de apoiadores foram ao perfil de Jean Wyllys nas redes sociais para demonstrar solidariedade.
“Jean, você sempre foi um símbolo de esperança para mim. Sua decisão é compreensível. Obrigado por ser linha de frente em um ambiente tão hostil. Obrigado por se manter vivo. Fico triste, resignado, mas com gigante admiração”, escreveu um seguidor. “Parabéns por toda a sua luta, por todo o seu serviço ao país. Espero que tempos melhores lhe acolham de volta no futuro”, disse outro internauta.
O ex-parlamentar publicou nas redes sociais uma mensagem agradecendo seus apoiadores e lembrando que manter-se vivo “também é uma forma de resistência”.
O advogado, professor e colunista do Justificando e ativista da causa LGBTI+, Paulo Iotti, também prestou solidariedade à Wyllys:
“Exílios podem ser voluntários ou forçados, os voluntários servindo para garantir a sobrevivência e realizar protestos políticos. É o caso de Jean, que faz um exílio por sua sobrevivência, já que sofre ameaças pesadas há muitos anos, que se agravaram após o assassinato de Marielle e a deplorável ascenção política de Bolsonaro. Triste e deplorável país que naturaliza isso, deplorável a postura de pessoas que comemoram isso apenas por não gostarem de Jean. São mais sinais dos tempos nefastos que se avizinham em nosso país, desde a eleição bolsonárica e tudo que representou – em síntese, o desprezo aos direitos humanos por discursos absurdamente preconceituosos desse cidadão, absurdamente eleito presidente da república – com letras minúsculas mesmo, nesse contexto…””.
“Por medo de ser assassinado, o deputado federal reeleito Jean Wyllys (PSOL-RJ) desistiu do mandato e afirmou que não pretende voltar ao país tão cedo – ele está fora por conta das férias. Jean, que sempre recebeu ameaças de morte por conta de sua atuação parlamentar em defesa da população LGBTT e dos direitos humanos, sentiu sua situação piorar após a execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes e das eleições do ano passado. O deputado, que vive sob escolta policial, disse em entrevista ao jornalista Carlos Julianos Barros, na Folha de S.Paulo, que pesou na decisão as informações de que familiares de um policial militar suspeito de chefiar uma milícia no Rio de Janeiro trabalhavam no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. “O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, disse. Você não precisa gostar de Jean Wyllys ou concordar com ele para entender que uma democracia pressupõe a garantia que pessoas não sejam ameaçadas de morte por aquilo ou por causa daqueles que defendem. Principalmente quando essas pessoas são políticos eleitos pelo voto popular para falar em nome de uma parcela dos cidadãos no Congresso Nacional. Porque, quando isso acontece, não é apenas o representante que está sendo expulso pelo clima de terror contra ele, mas é a opinião de cada eleitor e eleitora que está sendo amordaçada e violentada. Uma democracia incapaz de investigar com rapidez e seriedade as ameaças de morte contra um congressista é perigosa. Uma democracia em que uma desembargadora divulga ameaças de morte contra um deputado federal nas redes sociais é disfuncional. Uma democracia em que políticos ironizam um parlamentar que deixa o país com medo de morrer é ridícula.
Não deixo de sentir uma certa vergonha alheia com relação às autoridades que afirmam, com peito estufado, que as “instituições estão funcionando normalmente”. Qual o referencial histórico que adotam para tal avaliação? O Ato Institucional número 5 do Brasil de 1968? A Noite dos Cristais da Alemanha de 1938?
Nosso país sempre matou seus pobres, suas mulheres, seus negros, suas minorias em direitos, seus sem-terra e sem-teto, seus trabalhadores rurais, seus ativistas, seus jornalistas, seus políticos e qualquer um que resolvesse se insurgir contra a desigualdade e a injustiça social. No ano passado, contudo, inauguramos um novo ciclo de violência política. Marielle Franco e Anderson Gomes foram executados em março. Os ônibus da caravana do ex-presidente Lula foram alvos de tiros no mesmo mês. O então candidato Jair Bolsonaro sofreu um atentado em setembro que quase lhe custou a vida. Em outubro, o mestre capoeirista e compositor Moa do Catendê foi esfaqueado e morto por um eleitor de após uma discussão. Isso não resume a violência, claro. Esse ciclo encomenda mortes, mas também permite que elas aconteçam, através da omissão e do incentivo. Em “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, a filósofa Hanna Arendt conta a história da captura do carrasco nazista Adolf Eichmann, na Argentina, por agentes israelenses, e seu consequente julgamento. Ela, judia e alemã, chegou a ficar presa em um campo de concentração antes de conseguir fugir para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao contrário da descrição de um demônio que todos esperavam em seus relatos, originalmente produzidos para a revista New Yorker, o que ela viu foi um funcionário público medíocre e carreirista, que não refletia sobre suas ações e atividades e que repetia clichês. Ele não possuía história de preconceito aos judeus e não apresentava distúrbios mentais ou caráter doentio. Agia acreditando que, se cumprisse as ordens que lhe fossem dadas, ascenderia na carreira e seria reconhecido entre seus pares por isso. Cumpria ordens com eficiência, sendo um bom burocrata, sem refletir sobre o mal que elas causavam.
A autora não quis com o texto, que acabou lhe rendendo ameaças, suavizar os resultados da ação de Eichmann, mas entendê-la em um contexto maior. Ele não era o mal encarnado. Seria fácil pensar assim, aliás. Quis ela explicar que a maldade foi construída aos poucos, por influência de pessoas e diante da falta de crítica, ocupando espaço quando as instituições politicamente permitiram. O vazio de pensamento é o ambiente em que o “mal” se aconchega, abrindo espaço para a banalização da violência. Já fiz essa reflexão sobre o livro aqui, mas é pertinente retomá-lo neste momento.
Líderes políticos, sociais ou religiosos afirmam que não incitam a violência através de suas palavras. Porém, se não são suas mãos que seguram o revólver, é a sobreposição de seus argumentos e a escolha que fazem das palavras ao longo do tempo que distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna o ato de atirar banal. Ou, melhor dizendo, “necessário”. Suas ações e regras redefinem o que é aceitável, visão que depois será consumida e praticada por terceiros. Estes acreditarão estarem fazendo o certo, praticamente em uma missão divina.
Os envolvidos nesses casos colocam em prática o que leem todos os dias na rede e absorvem em outras mídias: que seus adversários político e ideológico são a corja da sociedade e agem para corromper os valores, tornar a vida dos outros um inferno e a cidade, um lixo. Seres descartáveis, que nos ameaçam com sua existência, que não se encaixa nos padrões estabelecidos do “bem”.
Jean Wyllys foi vendido, ao longo dos anos, como uma dessas pessoas descartáveis, que ameaçam a existência de “homens e mulheres de bem”. Nesse sentido, o agressor pode ser qualquer um o agressor pode ser qualquer um.
A discussão não é entre direita e esquerda, mas entre civilização e barbárie. Com o exílio de Jean Wyllys por medo de morrer, a barbárie marca mais um ponto” (Leonardo Sakamoto, jornalista político – grifos nossos)
“Nesta tarde tivemos conhecimento que o deputado Jean Wyllys não voltará ao Brasil e está abrindo mão do seu mandato na Câmara dos Deputados.
Jean alegou em entrevista à Folha de S. Paulo que cogitava abrir mão da vida pública desde que passou a viver sob escolta policial após a execução de Marielle Franco.
O deputado ainda aponta como uma das razões para se sentir apavorado e não voltar ao Brasil as ligações diretas da família Bolsonaro com os possíveis executores de Marielle. Jean sempre foi difamado pelo presidente Bolsonaro, ridicularizado com ofensas homofóbicas e pode-se dizer perseguido midiaticamente dentro da Câmara na época em que dividiam os mesmos corredores.
Diante destes fatos e os riscos mais que justificáveis na decisão de Jean Wyllys em não voltar ao Brasil, resolvemos no Justificando tratar este caso com a devida seriedade. Passamos a partir de hoje a considerá-lo como primeiro exilado político brasileiro no Governo Bolsonaro”. (André Zanardo, editor do Portal Justificando)
Fonte: <https://www.facebook.com/andrezanardo/posts/10215785035671701>
“Que tempos, solidariedade e desejo de sorte a Jean Wyllys. Difícil encontrar palavras pra uma situação tão absurda. Tristeza” (Brenno Tardelli, advogado e ativista de direitos humanos, Editor de Justiça e colunista da Carta Capital. Foi diretor de redação do Justificando)
Fonte: <https://www.facebook.com/brenno.tardelli/posts/10216914528231887>
“Escrevi esse texto em homenagem ao Jean Wyllys, que foi forçado a abdicar de um caminho em razão de pura agressividade e tirania. Sua saída, dura para a democracia, foi celebrada pelo presidente, uma coisa impensável, para depois dizer que é “mal-entendido”. São tempos políticos realmente absurdos e me solidarizo. Por mais diferenças que tenha tido em pontos de vista políticos, pelas quais me desculpo pelos excessos, era um deputado de luta, de resistência e prefiro muito mais me identificar nesse momento pelo tanto que nos representou. Em vários momentos ele foi épico e a cusparada representou muitos e muitas de nós. Toda sorte e sucesso a ele:
“Jean Wyllys, sinônimo de luta e dignidade. Parlamentar anuncia estar fora do país e põe fim ao grande mandato de luta pelos direitos humanosSinto-me sinceramente vivendo naquelas mais estereotipadas versões de República das Bananas. Fico imaginando o que Eduardo Galeano diria dos tempos presentes, onde o belo é o desrespeito, o ódio. A lógica parece ser o caos, como nas palavras de meu pai Roberto Tardelli, “os mais perplexos ainda se perguntam se o que estamos vendo corresponde à realidade ou algo maior e mais engenhoso se desenha por trás, em uma necessidade da existência de um plano maior e mais ambicioso, algo genial e ao mesmo tempo simples, que desse um sentido lógico a esse espetáculo delirante que tem sido acompanhar a estreia desse (des)governo”. Do que se vê na classe política dominante, o belo é ser burro, não saber nada de nada.
O belo é vender tudo, dilapidar o que é do Estado para os bilionários ficarem mais bilionários, enquanto salários ficam mais precários, sem bem estar, sem tempo. Parlamentar que vota homegeando torturador confesso é considerado belo. O belo parece ser o Brasil passar vergonha atrás de vergonha. Aqui dentro das fronteiras, é atraso após atraso. A última foi após ser ameaçado, difamado, perseguido por apoiadores e pela própria família Bolsonaro, o deputado federal Jean Wyllys anunciou estar fora do país e abdicou do mandato. Mais uma etapa rumo ao fundo do poço, o qual parece não ter fim, foi vencida. É lamentável e revoltante que o parlamentar tenha passado por isso, bem como tenha que lidar com o baixo nível de pessoas orgulhosas de sua truculência. Deseducadoras, pessoas irresponsáveis que nunca apoiaram qualquer coisa que desse algo ao povo além de armas.
O mandato de Jean Wyllys chega ao fim tendo sido muito rico em histórias. Eu mesmo já tive diferenças quentes em alguns momentos, pelas quais me desculpo no que me excedi, mas, porém, entretanto penso ser o momento de exaltar os laços políticos em comum do que exaltar diferenças. Como o Brasil se tornou um enorme vídeo da Damares, dizer o óbvio: Jean Wyllys sozinho vale mais do que incontáveis parlamentares reacionários que votaram sim naquela pavorosa tarde de impeachment. Parlamentares que votam tempo após tempo por mais desigualdades, que acham belo serem bestiais. Jean representou muita esperança e inspiração, veio do BBB, de identificação com o público que não tem ideia do que é debatido na bolha e poderia ter tranquilamente vivido uma vida sem comprometimento político algum como tantos fazem. Foi um diferencial nas redes sociais e nas gerações que amadureceram vendo-o em lutas épicas no Congresso. Jean aturou muito e teve uma conduta nobre em ambiente de extrema baixaria, sendo apenas um em mais de quinhentos parlamentares, dos quais uma maioria de homofóbicos. Quantas “piadas” sobre gay não devem ter sido feitas. Quantos encontrões. Quantas hostilidades. Muita gente perdeu sua sensibilidade, pois está aplaudindo os valentões do colégio que intimidam por pirraça e que não querem o bem de ninguém, a não ser o deles próprios. Quem vota em pessoas assim precisa se repensar. Jean Wyllys, em seu mandato de oito anos, resistiu dignamente e, ao fazê-lo, inspirou muitos a fazerem o mesmo. Um leão, tanto antes como depois do golpe de estado de 2016. Talvez por isso seja tão detestado pelos valentões, pelos pastores e pelas ovelhas.
E para além do como ele foi enquanto parlamentar, é preciso denunciar a situação política no Brasil. Não é possível que agências internacionais que tanto discutem “democracia” em lugares do mundo como a Venezuela, não questionem o que está acontecendo por aqui nos últimos anos. Quantos sinais de alerta e violações mais vão precisar? Não começou hoje, mas perdemos mais o tempo vendo noticiário falar da democracia na Venezuela do que aqui no Brasil. O impeachment por pedaladas olhado agora soa ainda mais como deboche.
Vale dizer que a partir do momento em que Bolsonaro, presidente, comemora nas redes uma declaração de auto-exílio, enquanto figura pública ele chancela a decisão e transforma o que era “auto” em um exílio consentido e celebrado. Como sempre tem sido, a fala é tida como um “mal entendido”. No país do deboche e da falta de transparência, um presidente pode fazer o impensável e se cobrir de fumaça em seguida. Um ex-capitão do exército que falava bobagens no CQC e não consegue um discurso de mais de cinco minutos e cuja família mostrou ser íntima de miliciano e cuja esposa não consegue explicar um cheque do motorista em sua conta. Esse é o presidente do país. Vergonha maior do que os tempos presentes será difícil de ser superada.
Desejo sorte a Jean Wyllys e que no exílio seja feliz e encontre a paz que muitas vezes deve ter faltado nos últimos anos. Que seu novo caminho seja de brilho e que signifique o despertar de consciência pelos direitos humanos de muitas pessoas que se encontram adormecidas, como também seja gasolina para muitas e muitos que quem resistem em tempos políticos tão brutais“. (Brenno Tardelli, advogado e ativista de direitos humanos, Editor de Justiça e colunista da Carta Capital. Foi diretor de redação do Justificando – grifos nossos).
Fontes: <https://www.cartacapital.com.br/justica/jean-wyllys-sinonimo-de-luta-e-dignidade/?fbclid=IwAR1ybGIMIAtaPUjXcYw-woIXI3JvpT4JtMP1l139cXZKBY0cJHR2sE1Mt9Y> e <https://www.facebook.com/brenno.tardelli/posts/10216916391478467>
OBS: o texto acima, de Brenno Tardelli, foi ratificado por Djamila Ribeiro, Mestra em Filosofia, filósofa negra, ativista de direitos humanos, ex-Secretaria Adjunta de Direitos Humanos do Município de São Paulo. Fonte: <https://www.facebook.com/djamila.ribeiro.1/posts/2354245237942354>
“Jean Wyllys não é medroso. Ele está corretíssimo. Não vale a pena morrer por esse país. Quantos já não fizeram isso e agora devem se revirar no túmulo, ouvindo as odiosas manifestações de burrice da turma que elegeu a familícia 17, comemorando nossa vergonha mundial?
Não vale a pena.
Se eu fosse ele, eu faria a mesmíssima coisa.
Só sinto pena de pessoas que tem total lucidez sobre o que está acontecendo nesse país, que é muito pior que 1964, mas que não podem sair…porque não tem recursos financeiros pra isso.
E vão ficar a mercê dessa cleptocracia que relincha via redes sociais, mas arrega quando tromba com a elite política internacional…” (Joice Berth, Especialista em Direito Urbanístico, feminista negra, ativista de direitos humanos, assessora do Vereador Eduardo Suplicy – PT/SP)
Fonte: <https://www.facebook.com/joice.berth.3158/posts/2563299480352493>
“O caso do deputado Jean Willys é muito grave. É inconcebível que um parlamentar tema pela sua vida em um regime que pretende ser democrático. Mas há outra coisa que também me preocupa imensamente: o enorme número de profissionais de instituições públicas e privadas que estão abandonando o país por pensarem que não há como construir um futuro aqui. Muitos deles estavam engajados em pesquisas que poderiam ter um impacto muito positivo na vida da população brasileira, por exemplo, nas áreas de doenças infecto-contagiosas. Além da ausência de verbas, teremos que enfrentar o problema da perda de cérebros que irão trabalhar em empresas privadas que se beneficiarão do conhecimento acumulado desses profissionais. Depois elas vão cobrar centenas de reais por remédios que foram indiretamente financiados pelo dinheiro do povo brasileiro. Estamos diante de uma tragédia social, mas eu não os culpo por isso. Não devemos pensar que a discriminação afeta negativamente apenas minorias. Ela prejudica toda a sociedade e o custo é muito alto: a vida de centenas de milhares de brasileiros” (Adilson Moreira, Doutor em Direito por Harvard e pela UFMG, ativista de direitos humanos pelos direitos da população negra e LGBTI+)
Fonte: <https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=811457122538045&id=100010212934209>.
“Jean Wyllys largou seu mandato de deputado federal e deixou o Brasil por medo de ameaças.
Toda a solidariedade a ele e sua equipe. Que consigam encontrar paz longe de todo o ódio. É disso que se trata agora.
Pois, goste dele ou não, Jean há muito é alvo do pior conservadorismo deste país.
Fizeram dele uma caricatura para que pudessem odiar a todos nós LGBT por extensão. Ao longo desses anos, humilharam-no pois assim também nos humilhavam. Ameaçaram-no tantas vezes pois queriam mesmo era nos ameaçar.
Perdemos todos”. (Lucas Bulgarelli, Mestre em Direito, ativista e pesquisador LGBTI+)
Fonte: <https://www.facebook.com/lucasbulgarelli/posts/10156261884169891>)
“O exílio de um parlamentar eleito é sinal contundente de como as instituições (não) estão funcionando. Dia triste demais para quem preservou a humanidade de si e ainda tem apreço pela democracia.
Sim, a palavra correta é EXÍLIO. É exatamente disso que se trata quando alguém precisa sair do país diante de ameaças por ser opositor de um governo.
Jean não tomou uma escolha fácil e livre, foi forçado a isso. São anos de um massacre cotidiano de sua imagem.
O clã Bolsonaro celebrando tal decisão em suas redes evidencia a baixeza dos nossos governantes. Se a autoridade investida no mais elevado posto da República prefere satirizar e ridicularizar em vez de tomar medidas protetivas para garantir a integridade de um mandato parlamentar, Jean tem suas razões legítimas para sair do Brasil neste momento. Só esperamos que volte logo.
É coragem, não fraqueza que chama isso. Orgulho de caminhar ao teu lado. Seguimos juntos, Jean Wyllys” (Renan Quinalha, Doutor em Direito, Professor de Direito da UNIFESP, ativista e pesquisador LGBTI+).
Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2126872190710200&set=a.194087147322057&type=3&theater>
“Sobre a decisão do deputado Jean Wyllys:
Penso que a nenhum representante deva ser exigida a manutenção da representação sob o custo da própria vida.
O deputado não se candidatou a bombeiro, policial ou soldado, funções de estado que têm por dever o enfrentamento dos riscos de morte.
Juízes criminais federais pedem transferência por medo de quadrilheiros.
Tivemos uma vereadora assassinada, sem nenhuma ameaça; a investigação se arrasta a quase um ano.
O recrudescimento da violência contra LGBTs, negros, nordestinos, feministas e mulheres em geral e qualquer cidadão crítico, além dos das esquerdas, povos nativos, integrantes do MST e MTST é um fato.
Ninguém sabe de véspera o seu limite para lidar com situações-limite.
É leviano subestimar os efeitos psicológicos sobre uma pessoa ao se ver submetida a diárias manifestações de ódio e ameaças de morte, enquanto o estado se omite, embora instado por organismos governamentais.
Chico Mendes cansou de denunciar as ameaças recebidas, vivia sob proteção policial e ainda assim foi assassinado.
O Parlamento federal não ficará sem representação LGBT – entra o suplente, David Miranda, também gay e combativo.
Saindo em autoexilio pode ser que o ex-deputado ajude na denúncia do estado de exceção em que estamos metidos.
O que estranho nessa decisão é não haver encontrado nenhum comunicado do parlamentar em sua página oficial, informando aos seus eleitores sobre a sua decisão. A tela “diário do mandato” está bastante desatualizada, assim como outras, na mesma página. Podem ser sintomas do quão fragilizado está nesse contexto o deputado, também atingido pela perda de sua colega de partido, Marielle Franco. Mas se ele comunicou à imprensa (foi assim que ele tornou pública a sua decisão? Pois também não localizei no twitter ou na sua página no Facebook), por que não o fez primeiro aos seus eleitores, cujos interesses, por força do voto, é o mandatário?
Pós-escrito: Encontrei isso, apenas e em seu perfil; na página do FB não há nada.
O que não me parece de forma alguma com um comunicado aos eleitores, que recentemente renovaram os votos em sua representação:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10218304246101287&id=1345462379” (Rita Colaço, Doutora em História, Graduada em Direito, ativista e pesquisadora LGBTI+_
Fonte: <https://www.facebook.com/Rita.Colaco.Brasil/posts/10215628784266059>
“A luta não para! Beijo no coração Jean querido, nosso São Bento vai te proteger!” (Majú Giorgi, Presidenta do grupo nacional das Mães pela Diversidade)
Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10218397865004693&set=a.10214421765444689&type=3&theater>
“Conheci Jean Wyllys num congresso e me apaixonei perdidamente pela alma dele! Inteligente demais, articulado demais, sensível demais e gay demais era impossível não arrebatar meu coração(quem me conhece sabe que amo os que sofrem, os vulneráveis e os invisibilizados demais!).
Jean foi um dos mais combativos militantes LGBTTQs e no congresso defendeu a bandeira dos grupos vulnerabilizados e não se calou!
Foi ele quem em legítima defesa corajosamente cuspiu Bolsonaro na votação do impeachment da presidenta Dilma e nos representou tanto!
Como todo ser humano generoso em qualidades, também tem seus defeitos, homens e mulheres grandiosos sempre tem! Mas escreveu o seu nome na história republicana como um deputado combativo e dono de ideias progressistas! O Brasil perde para o exílio um sonhador! E eu choro sua partida com muito sentimento, porque a luta será muito desumana! Boa Viagem, Jean! Mas não demora para voltar!!!!#jeanwyllys” (Carolina Valença Ferraz, Doutora em Direito, Professora da UFPB, feminista e ativista de direitos humanos)
Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2248239895215576&set=a.907319665974279&type=3&theater>
“Orgulho imenso de você, meu amigo! Um dia esse país vai te reconhecer por tudo o que você fez por tanta gente — os sempre esquecidos, os silenciados, os injustiçados; como dizia Galeano, os ninguéns. Um dia o herói falso dos idiotas vai cair e aqueles que te difamaram sentirão vergonha. Um abraço bem forte!” (Bruno Bimbi, Doutor em Letras e Linguagem, jornalista e assessor do Deputado Jean Wyllys)
Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10219052950413373&set=a.10214715032408134&type=3&theater>
—- Carta do Deputado Jean Wyllys, à Executiva Nacional do PSOL —-
À
Executiva do Partido Socialismo e Liberdade – PSol
Queridas companheiras e queridos companheiros,
Dirijo-me hoje a vocês, com dor e profundo pesar no coração, para comunicar-lhes que não tomarei posse no cargo de deputado federal para o qual fui eleito no ano passado.
Comuniquei o fato, no início desta semana, ao presidente do nosso partido, Juliano Medeiros, e também ao líder de nossa bancada, deputado Ivan Valente.
Tenho orgulho de compor as fileiras do PSol, ao lado de todas e todos vocês, na luta incansável por um mundo mais justo, igualitário e livre de preconceitos.
Tenho consciência do legado que estou deixando ao partido e ao Brasil, especialmente no que diz respeito às chamadas “pautas identitárias” (na verdade, as reivindicações de minorias sociais, sexuais e étnicas por cidadania plena e estima social) e de vanguarda, que estão contidas nos projetos que apresentei e nas bandeiras que defendo; conto com vocês para darem continuidade a essa luta no Parlamento.
Não deixo o cargo de maneira irrefletida. Foi decisão pensada, ponderada, porém sofrida, difícil. Mas o fato é que eu cheguei ao meu limite. Minha vida está, há muito tempo, pela metade; quebrada, por conta das ameaças de morte e da pesada difamação que sofro desde o primeiro mandato e que se intensificaram nos últimos três anos, notadamente no ano passado. Por conta delas, deixei de fazer as coisas simples e comuns que qualquer um de vocês pode fazer com tranquilidade. Vivo sob escolta há quase um ano. Praticamente só saía de casa para ir a agendas de trabalho e aeroportos. Afinal, como não se sentir constrangido de ir escoltado à praia ou a uma festa? Preferia não ir, me resignando à solidão doméstica. Aos amigos, costumava dizer que estava em cárcere privado ou prisão domiciliar sem ter cometido nenhum crime.
Todo esse horror também afetou muito a minha família, de quem sou arrimo. As ameaças se estenderam também a meus irmãos, irmãs e à minha mãe. E não posso nem devo mantê-los em situação de risco; da mesma forma, tenho obrigação de preservar minha vida.
Ressalto que até a imprensa mais reacionária reconheceu, no ano passado, que sou a personalidade pública mais vítima de fake news no país. São mentiras e calúnias frequentes e abundantes que objetivam me destruir como homem público e também como ser humano. Mais: mesmo diante da Medida Cautelar que me foi concedida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, reconhecendo que estou sob risco iminente de morte, o Estado brasileiro se calou; no recurso, não chegou a dizer sequer que sofro preconceito, e colocaram a palavra homofobia entre aspas, como se a homofobia que mata centenas de LGBTs no Brasil por ano fosse uma invenção minha. Da polícia federal brasileira, para os inúmeros protocolos de denúncias que fiz, recebi o silêncio.
Esta semana, em que tive convicção de que não poderia – para minha saúde física e emocional e de minha família – continuar a viver de maneira precária e pela metade, foi a semana em que notícias começaram a desnudar o planejamento cruel e inaceitável da brutal execução de nossa companheira e minha amiga Marielle Franco. Vejam, companheiras e companheiros, estamos falando de sicários que vivem no Rio de Janeiro, estado onde moro, que assassinaram uma companheira de lutas, e que mantém ligações estreitas com pessoas que se opõem publicamente às minhas bandeiras e até mesmo à própria existência de pessoas LGBT. Exemplo disso foi o aumento, nos últimos meses, do índice de assassinatos de pessoas LGBTs no Brasil.
Portanto, volto a dizer, essa decisão dolorosa e dificílima visa à preservação de minha vida. O Brasil nunca foi terra segura para LGBTs nem para os defensores de direitos humanos, e agora o cenário piorou muito. Quero reencontrar a tranquilidade que está numa vida sem as palavras medo, risco, ameaça, calúnias, insultos, insegurança. Redescobri essa vida no recesso parlamentar, fora do país. E estou certo de preciso disso por mais tempo, para continuar vivo e me fortalecer. Deixar de tomar posse; deixar o Parlamento para não ter que estar sob ameaças de morte e difamação não significa abandonar as minhas convicções nem deixar o lado certo da história. Significa apenas a opção por viver por inteiro para me entregar as essas convicções por inteiro em outro momento e de outra forma.
Diz a canção que cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz e ser feliz. Estou indo em busca de um lugar para exercitar esse dom novamente, pois aí, sob esse clima, já não era mais possível.
Agradeço ao Juliano e ao Ivan pelas palavras de apoio e outorgo ao nosso presidente a tarefa de tratar de toda a tramitação burocrática que se fará necessária.
Despeço-me de vocês com meu abraço forte, um salve aos que estão chegando no Legislativo agora e à militância do partido, um beijo nos que conviveram comigo na Câmara, mais um abraço fortíssimo nos meus assessores e assessoras queridas, sem os quais não haveria mandato, esperando que a vida nos coloque juntos novamente um dia. Até um dia!
Jean Wyllys
23 de janeiro de 2019